segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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Quem sou eu? Ou, melhor, o que sou eu? De que é feita a essência humana? Essas e outras dúvidas assaltam a consciência humana talvez desde o momento em que nos percebemos como humanos.
Essa investigação, necessária e premente, acompanha-nos no decorrer de toda a vida, em processos de construção e desconstrução constantes, geradores de crises e consolidadores de nossa personalidade. Para todos essa busca é incômoda. É mais delicado e cômodo nos enganarmos, distraídos em assumir os papéis temporários que a vida em sociedade nos impinge.
Vivemos inconscientemente essa procura interminável, e esse é o fardo de todo e qualquer ser humano. Vivenciar visceral e conscientemente o périplo em torno das perguntas que na verdade nunca serão respondidas – talvez porque a essência do homem resida na indagação, não nas respostas a elas – , porém, é iniciativa de poucos. Há o assombro, o soco, a morte, há o espinho ressentido, há angústias envolvidas, dos quais não se pode escapar.
Ao mesmo tempo, agora mostra uma viagem em busca desse conhecimento. A leitura do texto é, inicialmente, perturbadora. O processo de raciocínio da personagem ameaça tragar-nos num labirinto emocional que, creio, busca desestabilizar, desconstruir, enterrar definitivamente no peito a lâmina fina e dolorida que estabelece o desconforto. O leitor que embarca sem preconceito nessa viagem pode compartilhar dores e inquietações não apenas do autor, mas de toda uma geração, perplexa diante do amargo gosto do tempo. Como no Inferno de Dante, urge, ao entrar, deixar toda esperança, pois, se há redenção, o caminho até lá será íngreme e áspero.


Professora Hilana Cabral Ribeiro

Meu livro pela ótica de bons comentadores


Sábado, 12 de Setembro de 2009
Sobre ao mesmo tempo agora.
Ao mesmo tempo agora é o signo de uma crise, de uma dor. É um retrato da angústia que ronda o humano no momento da descoberta de si, no seu inalienável abandono, desamparo e desespero. Por signo compreende-se o esforço de se fazer representar as condições ontológicas nas quais nos encontramos. No espelho, nos descobrimos velhos, jovens, apressados ou ansiosos, nos vemos como somos no olhar objetificador do si mesmo. A ausência de sentido, de sustentação de si na e pela estrita solidão revela-nos a necessidade do encontro, da busca de um outro para estabelecer a nossa diferença. Nela encontro a minha subjetividade, lançada como um projeto em um presente sempre aberto e aterrador. Na descoberta do outro reside a possibilidade de encontrar a si mesmo e de sair da resposta vazia do si para si mesmo revelada na solidão, porém o encontro com o outro, seja no trabalho, seja no amor, revela-nos como reféns, como seres de acordos e contratos, que na sua rotineira presença, forçam-nos a fuga do si mesmo. A angústia acaba por se revelar não apenas na estreiteza da solidão, mas na busca de um outro. Afinal, estamos ininterruptamente submetidos ao sem sentido, que se revela na busca de se encontrar um eu, que estruturaria a fugacidade e nulidade do estar no mundo junto aos objetos, aos outros e as coisas. Enfim, somos supérfluos. As coisas mais banais têm mais plausibilidade, pois apenas permitem-se ser. A descoberta da nulidade choca-se com a constatação da liberdade. Por liberdade compreende-se a abertura mesma dos possíveis que nos rondam a todo instante. Acaba por ser compreendida como um pro-jeto, um lançar-se em direção, mesmo que não conscientemente deliberado. Jean, a personagem de Ao mesmo tempo, descobre-se, inalienavelmente, condenada à liberdade. Porém, a descoberta da liberdade não anula o vazio e a angústia mesma de habitar o SER o NADA. O trabalho de Jean, o seu esforço na sala de aula, o seu diálogo com seus alunos, com os seus amigos e com a sua quase namorada não consegue desfazer a sensação de nulidade, abandono e desespero. Na cena final, imerso na impossibilidade da afirmação plena de seu ser, na descoberta da nulidade de qualquer decisão diante da certeza da morte e do nada, emerge o choro, a expressão da dor e desespero do existir: afinal, tudo é vão. Não seria a morte a solução? A antecipação do destino, do fim para o qual caminha toda a vida, seria a derradeira saída? Para o autor, nos olhos da criança reside a esperança, pois “toda dor passa”. A cura é a descoberta da transitoriedade do humor, e da exuberante experiência do ser estar lançado e entrecruzado pelo que passa. A cura é ver-se no tempo, é ser tempo.

Para o amigo e filósofo, Fábio Luis de Almeida Leite, por ter tido a coragem de lutar, com os olhos abertos e a mente atenta, com o absurdo que nos ronda. Afinal, ser ou não ser? Eis a questão.Por Marcos Vinícius Leite, Mestre em Filosofia. Filósofo.